Prefácio de Aí de ti Positivo
Trago na obrigação, pois seria pecado artístico ficar no
desconhecimento, a divulgação deste texto genial de Júlio Paulo Marcondes. O
Escritor de São José do Rio Preto – SP que pousou tempos em Curitiba e em Sampa
escreveu prosa e poesia. Sua poesia pode ser apreciada no Faquir Loquaz, lançado um ano atrás. Sua prosa está quase na
totalidade inédita. Este texto de 2003 foi arqueologado de seu rico agadê, onde
existem obras maravilhosas.
Por ter passado pelo mundo do pré-vestibular, sua obra mais
valiosa foi a discursada em suas aulas sempre concorridas por alunos enloquecidos
por exatas e bitológicas e que encontravam nela uma fuga da maniaconeurose do
Vestibular. Positivo é metonímia, a emprresa pelo produto. Educar é produto.
Júlio foi o maior professor de cursinho do Brasil; do Brasil não, do mundo; do
mundo não, de Curitiba!
Muita LuZ,
Mazinho SoL
AI DE TI, POSITIVO! E OU LAMENTAÇÕES DO POSITIVO.
Uma tentativa, bem humorada ou nem tanto, de
parodiar Rubem Braga e Dalton Trevisan.
(Dedicado a todos
professores de Cursinhos e elaboradores de Vestibular)
A palavra do Senhor contra o Positivo no dia de sua
visitação:
Suave foi o jugo de Nabucodonosor, rei de Babilônia, diante
do Positivo escarmentado sob os anjos do Senhor, como aula ruim que não se pode
assistir de chata que é. Ai, ai do Positivo, o seu lugar não será achado daqui uma
aula.
AI DE TI, POSITIVO, porque eu já fiz o sinal de que é
chegada a véspera de teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as
apostilas. Gemerei pelo Dedão; sim, porque a ti chamaram de Escola, e cingiram
tua fronte com uma coroa de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no Bar
Palácio.
O III Milênio acabou; o vestibular já mudou e tu não viste
este sinal; estás perdido e cego no meio de tuas iniqüidades, de teus macetes e
de tua malícia.
Grandes são tuas salas de cimento e vidro, e elas se postam desafiadoras;
mas elas se abaterão. E os professores nadarão nas tuas vasas fétidas; e o Frio
lançará granizo sobre ti num rebumbar de estouros, qual bombas de alunos em
banheiros; qual fanfarras de Sete de Setembro, e todas as muralhas ruirão.
O dia virá no meio do maior silêncio, com um sinal. O último
sinal.
O que fugir da Batel não escapará da Ângelo, o que escapar
da Vicente não fugirá do Júnior, mas o que escapar do Ambiental, da Unicemp, da
Editora e dos convênios, esse não fugirá de si mesmo e terá morte pior.
O relógio da secretaria marca a hora parada do dia de sua
visitação.
Ó professor, passou o tempo assinalado. Os abutres afiam
seus bicos recurvos por causa da aula de véspera que vem perto.
E as aranhas marrons habitarão a sala dos professores. Então
quem especulará sobre o preço de tuas aulas? Pois na verdade não haverá aula
alguma!
Ai daqueles que bebem no Capelle, quentes e aquecidos, e
desprezam o vento e o frio do Senhor, e não obedecem à lei do inverno
curitibano.
O pânico virá num intervalo no Batel, no meio do riso; o
riso não será riso, diz o Senhor, as alunas desfilarão diante dos espelhos
azuis e não darão com sua imagem.
A praça Espanha madrugará sem os olhos para não ver! As
árvores do Ambiental sacolejarão os
enforcados como notas vermelhas no mural.
O colégio será um pátio com seus urros de chazão e
maldições. Muitos descerão as escadas fugindo para debaixo das mesas e cada um
terá mais de uma morte: uma, a que escolher, e outra pela espada do Senhor, que
já assobia no ar.
Ai daqueles que passam em seus carros importados buzinando
alto, pois não terão tanta pressa quando virem pela frente a hora da reprovação.
Tuas alunas se vestem luxuriosamente e pintam a tez, e teus
alunos fazem das motocicletas instrumentos de concupiscência.
Uivai, alunos, e clamai, alunas, e rebolai-vos na cinza,
porque já se cumpriram vossos dias, e eu vos quebrantarei.
Ai de ti, Positivo, porque é o dia da visitação, diz o
Senhor. Das tuas pastinhas de ouro, das tuas questões na mosca, do teu
bebedouro de água torneiral, a gente te perguntará: Que fim levaram?
Dá uivos, ó Rua Vicente, berra, ó Ângelo, uma espiga de
milho debulhada é tua lousa: sabugo estéril.
O terror arrombará as portas, os mendigos pobres do Passeio
Público destruirão os vidros, a escola federá como a jaula de um chacal doente.
Ai de ti, Positivo, porque os negros e os gays poderão passear em teus elevadores
preconceituosos, e os meninos da favela, quando for chegado o tempo do Semi,
jogarão bolinhas de papel nos professores; ou lançarão suas vaias dos altos
tablados.
Por que rezais o Memorex em vossos templos, fariseus, e
levais flores na praia de Caiobá em seus brancos reveillons? Acaso eu não conheço
a multidão de vossos pecados?
Antes de te perder eu agravarei a tua demência, ai de ti,
Positivo! Os gentios de teus shoppings descerão uivando sobre ti, e o marketing
de tua própria agência se voltará contra teu corpo; mas a água salgada de
Caiobá levará milênios para lavar os pecados de um só Super-Intensivo.
Ó Positivo Positivo Positivo, estendes os braços perfumados
pedindo tempo, quando não há tempo. Onde estão os camelôs das pastinhas
falsificadas do terminal Guadalupe?
Ó Positivo Positivo Positivo, falso puritano escuta o grito
do Senhor. É a prova final. Teu próprio nome será um provérbio, uma maldição,
uma vergonha eterna.
E no Cristal os demônios comerão os aprovados de seu
vestibular somatório; e os vendedores da rua XV sairão nas colunas dos
cronistas sociais. Pois grande foi a tua vaidade.
A rapina de teus mercadores do saber e a libação de teus
perdidos; e a tua ostentação de teus gabaritos gentis, tudo passará.
Porém muitos ingênuos morrerão por se embebedarem no uísque
falsificado de tuas festas. Acabou o banho de lama e o inútil saco de estopa!
Onde há cachaça para tantos repetentes? Onde estão os Out-doors espalhados pela
cidade?
Positivo, o Senhor chamou o teu nome e como o de Faraó rei
do Egito é apenas um som. A espada veio sobre o Positivo, e o Positivo foi, não
é mais.
Não tremas, ó aluno de escola pública, nem tu, pacato
colégio de freiras, a besta baterá vôo no degrau de tuas portas.
Pinta-te qual mulher pública e coloca todas as tuas jóias, e
aviva o verniz de tuas unhas e dá tua última lição pecaminosa, pois em verdade
é tarde para a recuperação; e que estremeça o teu corpo cheio de máculas, desde
o Omar Shopping até o Batel, porque eis
que sobre ti vai a minha fúria, e o destruirá. Canta a tua última canção,
Positivo! Até aqui o juízo do Curso Positivo.
PROFESSOR JÚLIO PAULO CALVO MARCONDES
(Diretamente do sertão paulista para Curitiba.)
- FELIZ ANO NOVO- Curitiba, fins de 2003.
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