domingo, 25 de março de 2012

Outono na Veia, Primavera nos Dentes.



Outono na Veia, Primavera nos Dentes.


O fim de março em Floripa foi marcante pelo forte calor do veranico costumeiro e a temperatura alta das comemorações de aniversário da cidade e seus eventos culturais. Não, no título “Outono na Veia” não há alusão às drogas, como talvez haja nas bandas contratadas pelas cidades catarinenses de Florianópolis e São José para a comemoração de seus aniversários.  “Skank, na beira-mar de São José dia 18 de março”, este era o áudio do comercial da festa de comemoração do aniversário da cidade de 262 anos. Questiona-se se maconha talvez não seja de mais agrado e consumo da população, alem de menos sequelante. Droga maior é a oferecida pela prefeitura de Floripa: “Victor e Leo” com direito a gravação do DVD ao vivo. Droga da pesada, viciante e deprimente. Detalhe que o aniversário da cidade é dia 23 de março e o show só dia 28. Tudo a ver com o clima super country da ilha.  A possível comercialização futura do produto gravado pode ser considerado tráfico intolerável de drogas intoleráveis. Psicomato.


Mas voltando ao título, “Outono na Veia” não só é alusão à droga, como, pelo contrário, citação da qualidade. Outono na veia é um trocadilho com a música que corre no sangue da vida musical da Ilha, original de Biguaçu, homônima da canção dos Secos e Molhados: inspiração; Primavera nos Dentes, 12 anos depois, no palco da Maratona Cultural, na pracinha da Lagoa. Floripa Jurássico Park, lá se encontravam músicos, artistas e pessoas que fizeram parte da cena musical Ilhéu dos anos 90. Mané Beat. Ás 16 horas do sábado, 24 de março de 2012, o pernilongo avuou meio de lado e o cabelo do maluco ficou todo arrepiado com uma das bandas mais importantes da história do rock de Floripa voltando ao palco. No folder do evento estava escrito Primavera nos dentes [Rock Folk]: sutil detalhe. Os ratos que roíam minha roupa não são mais os mesmos e por isso eu sinto falta de você, e o público cantou junto, matando as saudades dos shows no Berro D’água, Matisse, Ganzá e Sufoco. Rostos se olhavam como quem diz: “Não te conheço de algum lugar”, e lá vai o tal, lendo um jornal de outros anos, com outros planos. TD continuava desengonçado e preciso numa bateria três números menor que ele. O capitão do barco vai levar a gente lá pro fundo do mar. Joe Zangga, todos os minutos com um sorriso no rosto emanando saúde e alegria; cantou como um macaco velho com o olho arregalado, com o sangue inflamado.  Enquanto Nei d’Bertta solava em sua harmônica um Meloso Blues, Duda Medeiros cantava junto na plateia a música que a sua Carne Viva também gravara. Márcio Packer, melhor até que Márcio Packer, mostrando boa forma é um Santana da Ilha. Saudades do Rogerinho, Ali Empaléia e da Isabela. Faltou Andreia, será que precisava de ensaio? Fazendo um som só de malandro, lá vai a tal Primavera fazendo este que talvez tenha sido o grande momento desta Maratona Cultural. Emocionante.


Após o Primavera, o princípio de chuva esvazia a praça e Luciano Bilu, o Jeff Beck da Ilha, o maior guitarrista destes Açores, e que nos 90 era Indiana Blues, sobe ao palco para solos perfeitos, mas difíceis de serem ouvidos, pois o teclado estava muito mais alto que a voz e a guitarra; difícil era ouvir isto e olhar para o mesa de som abandonada, sem um técnico de som para perceber e corrigir. Este descaso das empresas de sonorização da região com os artistas locais também é famoso desde os anos 90. Ridículo. Outro ponto negativo foi o Show de Lenine no trapiche da Beira-Mar. Com apenas dois músicos (ou talvez DJs), Lenine fez um show monótono, acompanhado por playbacks chatos e um baixo muito intenso, embolando um ruído cansativo. Não empolgou nem um pouco, até mesmo seu violão, normalmente ponto alto do show, estava com um som estranho e fraco. Falhou Lenine, falhou sonorização. O iriê salvou a pátria na preliminar do pernambucano, simples e certo, tiro certo. Reggae muito bom. Ritmo certo. Outro ponto negativo: alô prefeitura, não se faz Maratona Cultural numa cidade sem transporte público. Domingo só se foi a Beira-Mar de carro, não tinha vagas, não se via um ônibus; mas querer transporte público de qualidade em Floripa é pedir demais, isto são outros textos, pois minha filosofia é a filha da Sofia, e nada do que foi dito, será dito pelo dito ou por você.

MAzinho SoL, músico, produtor musical, crítico de arte e jornalista.


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