sábado, 12 de março de 2011

Visconde de Taunay - Autor de Inocência

Alfredo D’Escragnolle Taunay (Rio, 1843-1899)



Descendente de família nobre de pintores que chegou ao Rio de Janeiro durante a estada de D. João VI na cidade, teve educação intensa em artes e posteriormente ingressou na carreira militar onde serviu como engenheiro na guerra do Paraguai. Seu primeiro romance foi A Mocidade de Trajano, publicado em 1871, sob o pseudônimo de Silvio Dinarte. Também em 1871 publicou A Retirada de Laguna, com impressões suas sobre um momento importante da Guerra do Paraguai. Seu principal livro foi Inocência (1872), romance que inaugura o Regionalismo no Romantismo Brasileiro, trazendo para a prosa a vida e o linguajar do interior do Brasil que conheceu em suas viagens militares. A partir de 1872, ingressou no Partido Conservador, elegendo-se deputado e senador pela província de Santa Catarina, a qual também presidiu. Sendo monarquista convicto, afastou-se da política com a proclamação da república.

Sendo, em sua formação e atividades, engenheiro, militar e pintor, retratou em sua obra um universo verossímil, com paisagens de detalhadas descrições, sendo até classificado por alguns críticos como um precursor do Realismo. Muito inteligente e racional, criou diálogos naturais com linguagem simples, frutos de sua observação dos costumes rudes dos sertanejos. Tendo uma ampla e variada obra, atuou também como jornalista, memorialista e biógrafo.
Cuba sim, em nome da verdade.


Cuba sim, em nome da verdade, foi o enredo monêmico (ou seria unânime) da escola de samba União da Ilha da Magia, campeã do carnaval 2011 em Florianópolis. O título da escola vem colocar uma pedra em cima de uma levantada discussão sobre o tema Cuba, escolhido pela escola como homenagem a um povo feliz, vencedor e de opções políticas diferentes da maioria de outras nações. Uma parte reacionária da sociedade e da imprensa catarinense, estado que raramente elegeu candidatos de partidos de esquerda, em diversas oportunidades, criticaram o enredo como polêmico. Observa-se que o enredo só passou a ser polêmico, pois a polêmica foi forçadamente levantada e o adjetivo passou a acompanhar o carnaval da UIM em noticiários e notas do jornalismo. Outra União da Ilha, a do Governador, da cidade do Rio de Janeiro, desfilou o enredo sobre Darwin na Sapucaí. Estranhamente, ninguém levantou o tema como polêmico, em um Estado de grande quantidade de evangélicos e crentes e onde um garotinho que fugiu da escola e virou governador tentou instituir o criacionismo nas escolas municipais, em detrimento ao darwinismo. Neste caso, simplesmente não se quis levantar a polêmica. Logo, o termo polêmico na escola da ilha do sul foi mais imposto pela má fé e ignorância de alguns do que pelo fato de realmente ser. Aliás, se a União da Ilha do Rio fosse julgada (não foi em função de um incêndio), qual seria a nota de Darwin no quesito evolução?

Da cogitação e polêmica prévias ao desfile há uma grande ponte sobre o rio de águas turbulentas. A procura por fantasias e a freqüência nos ensaios na praça da lagoa só aumentou, principalmente pela simpatia com o enredo. A escola aumentou consideravelmente as vendas de camisetas com a imagem de Che Guevara que, aliás, sempre esteve em alta. A escola aproximou mais e aumentou muito a simpatia com um povo alegre, forte e batalhador que possui muito mais semelhanças que diferenças com o brasileiro, abafando uma antipatia ou rivalidade vindas de uma época de combate a imagem comunista na ditadura militar e, posteriormente, de jogos memoráveis entre as seleções nacionais de voleibol, tanto nos mundiais como nas olimpíadas. Por que não mostrar os lados ruins da ditadura de Fidel em cuba? A resposta é simples: enredo de carnaval não é tese acadêmica de doutorado em história ou filosofia exigindo análises profundas, técnicas ou até verdadeiras. Carnaval é uma festa popular, de fantasias, de máscaras, onde o principal intuito é a diversão. O desfile de uma escola de samba é uma obra de arte montada como se produz uma ópera: com sua música, figurinos, cenário, personagens, cenas, fantasias, musas, histórias e, principalmente, sua platéia. A esta platéia é muito mais indicado a comédia que o drama. Acreditar que a escola, fazendo jus ao nome escola, deveria mostrar a verdade verdadeira é esperar que a Grande Rio, escola carioca que homenageou Florianópolis, entrasse na avenida com um carro alegórico que apresentasse a praça da alfândega com crianças fumando crack e cheirando cola ou até um carro alegórico com uma famosa árvore de natal de quatro milhões de reais com o Andrea Bocelli de destaque. Talvez o carnaval seja muito mais para se esquecer destes fatos do que lembrá-los.

O desfile em si foi unânime, quando a UIM entrou no sambódromo Nego Quirido, a possibilidade da recém criada escola de samba ganhar o título tornou-se evidente. A comissão de frente, nivelando-se com as melhores escolas do eixo Rio - São Paulo, arrancou aplausos de toda a arquibancada. Seu primeiro carro alegórico trouxe o execrável e aterrorizante Tio Sam, refletindo as influências e interferências norte-americanas em cuba; levou ao delírio uma nova leva de torcedores da arquibancada: aqueles que estudam história e filosofia na universidade federal, andam de camiseta vermelha e frequentam diretórios centrais de estudantes e centros acadêmicos. A bateria do mestre Dé e da rainha Catarina, vestida de “guerreiros unidos da revolução”, com suas boinas vermelhas (extremamente cobiçadas pelos turistas no fim do desfile), fez um desfile tecnicamente correto e militarmente excitante: batendo continência e reverenciando a assistência. Marcelo Perna, sempre de retórica eloqüente, cantou um samba simples e ingênuo, mas de fácil memorização com refrões que lembravam gritos de guerra. Passando pelo turismo, saúde, educação, a escola finaliza o desfile mostrando os velhos cabarés de Havana, como o cabaré Tropicana, onde a luso-brasileira Carmem Miranda se apresentou nos anos em que Cuba era o Balneário Camboriú dos americanos.

Certamente, a estrela que mais brilhou na passarela na noite de sábado para domingo deste carnaval não foi uma mulata gostosa com roupas pequenas e sambando muito, pelo contrário, foi a médica pediatra legista (será que existe profissão que exige mais sangue frio que esta?) Aleida Guevara, que desfilou no segundo carro alegórico representando a revolução cubana. Filha do ex-combatente Ernesto Che Guevara, Aleida foi convidada a desfilar pela diretoria da escola. Inicialmente custou a entender o que era um desfile de escola de samba e o que estava fazendo ali, entrando em uma avenida com arquibancadas lotadas aos lados, na frente de um canhão de brinquedo montado em cima de uma estrutura de metal toda decorada e com rodinhas. Seu carro alegórico vinha logo atrás da bateria e da ala das passistas, o que contagiou muito a visitante que saiu do desfile cantando o samba enredo da escola e com um lindo sorriso no rosto. Dizendo que estava ali representado todo o povo cubano e não só a figura do pai, respondeu também para uma emissora de televisão local: “Quando um povo se utiliza de sua festa mais popular para homenagear outro povo, isto deve ser um grande motivo de orgulho e alegria.” Aleida comentou também da felicidade das pessoas durante a festa; esteve na apuração dos votos e vibrou com a vitória da escola novata; participou emocionada do desfile das campeãs na noite de terça-feira. Imagine só o que esta mulher terá de histórias para contar para seus colegas de trabalho no Hospital de Havana, em seu retorna a Cuba.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Os Livros do Vestibular da UFSC 2012

A Universidade Federal de Santa Catarina divulgou recentemente a lista das obras indicadas para seu Vestibular de 2012. A leitura dos livros é essencial uma vez que a prova do vestibular cobra questões com detalhes do enredo que só podem ser resolvidas com a leitura das obras. Convém também conhecer o contexto histórico, social, cultural e estético de cada obra, bem como o reconhecimento de aspectos próprios aos diferentes gêneros. Neste blog serão postados durante este ano vários artigos, resenhas e ensaios sobre as obras e seus autores. Acompanhe-os. Segue abaixo a lista das oito obras indicadas para o vestibular UFSC 2012.

1. Visconde de Taunay - Inocência

2. Manoel Antônio de Almeida - Memórias de um Sargento de Milícias

3. Dias Gomes - O Pagador de Promessas

4. Ana Miranda - AMRIK

5. Oswaldo França Júnior - Jorge, um brasileiro

6. Cecília Meireles - Viagem & Vaga Música

7. Milton Hatoun - A Cidade Ilhada

8. Adolfo Boss e Outros - Treze Cascaes

A redação no vestibular da UFSC

A prova de redação da UFSC têm sido cada vez mais original e criativa em seus temas e gêneros. A redação que era inicialmente uma dissertação passa a variar para cartas, narrações, contos, argumentações e crônicas, saindo de um padrão convencional e dando liberdade a linguagem. As receitas antigas de professores para dissertações com cinco parágrafos contendo apresentação, tese, antítese, conciliação e conclusão perdem valor e prioriza-se a capacidade de entendimento e adaptação ao tema, a coerência, a linguagem e argumentação do aluno. Esta e uma grande evolução e coloca a prova da UFSC na linha de frente das inovações e evoluções dos vestibulares. Como escrito no edital do vestibular de 2011, a redação deve ser resultado da produção e da criatividade do candidato.


A diversificação de gêneros literários e temas acaba contribuindo e fazendo parte do processo de seleção uma vez que se integra a itens relevantes à correção como adequação ao tema proposto e nível de informação. Segue abaixo informações do edital do vestibular de 2011 com relação a critérios de avaliação.



A avaliação da Redação será considerada nos planos do conteúdo e da expressão escrita, quanto à/ao:

a) adequação ao tema proposto;

b) modalidade escrita na variedade padrão;

c) vocabulário;

d) coerência e coesão;

e) nível de informação e de argumentação.



Sobre critérios de correção e avaliação é interessante conhecer a publicação sobre o conteúdo programático da disciplina redação e produção textual que está no site oficial da COPERVE-UFSC. Neste programa informa-se o critério de correção baseado em três vertentes: adequação; coerência e coesão; informação e argumentação. Entende-se por adequação o entendimento da proposta de texto da redação, a proximidade do texto do aluno com o tema, a adequação da modalidade escrita na variedade padrão, o respeito as normas gramaticais e ortográficas e o vocabulário. Na coerência e coesão analisam-se o encadeamento das ideias, organização do texto, relações semânticas e uso de conjunções e tempos verbais. As informações e argumentos escolhidos pelo aluno devem ser condizente com seu grau de escolaridade, escolhidas e organizadas de modo consistente para o entendimento do texto.

Do ponto de vista da contextualização, o próprio termo redação de vestibular, ou redação de concurso pode ser considerado um gênero textual, gênero este que possui um tamanho determinado (20 a 30 linhas na UFSC), um tempo e momento para ser escrito e destinado a um leitor (examinador) desconhecido. Dentro do gênero redação de concurso podemos encontrar diversos gêneros em relação ao estilo do texto proposto. Até o ano de 2002 a prova continha apenas uma proposta de redação que era necessariamente uma dissertação. A partir de 2003 a redação deixa de ser obrigatoriamente uma dissertação e passa a ser um texto em prosa, podendo abranger outros gêneros. Desde 2003 também passa-se a pedir mais de uma proposta, sendo duas propostas de 2003 a 2005 e três propostas de 2006 em diante. Nos anos de 2003 a 2005 o texto poderia ser uma dissertação ou outro texto com caráter argumentativo. De 2006 em diante as propostas passam a diversificar os gêneros pedindo cartas, narrações, notícia de jornal, crônicas e até contos. Observa-se uma abertura cada vez maior dos temas e dos gêneros com o objetivo de possibilitar mais liberdade para o aluno expor suas qualidades redacionais. A partir de 2006 também temos uma relação muito grande entre a prova de redação e os livros de leitura obrigatória da prova de literatura. No último vestibular, em 2010, este modelo se manteve, tendo-se três propostas: uma dissertação, uma narração e um conto ou crônica baseado em um poema de Mário Quintana, de um dos livros indicados para o vestibular.

Nas provas dissertativas e argumentativas destacam-se, em sua maioria, temas sociais e cotidianos como a colonização do Brasil (2000), a preservação da natureza (2001), o tratamento do homem como bicho (2002), a pedofilia ou o culto ao corpo (2003), a vaidade e a posição do homem na família (2005), a ética e a moral (2008) e até o fim do mundo (2010). Destacam-se dois temas fortes e polêmicos: o preconceito com exposição e discussão de temas como os gays e os negros (2004) e a sempre polêmica discussão sobre cotas raciais e sociais nas universidades (2005). Nas provas mais recentes com mais de uma proposta surgem temas mais leves e diversos: uma carta ao presidente da ONU sobre a paz (2006), um texto bem livre em primeira pessoa onde o aluno deve completar o pensamento: “Eu preciso de...” (2008), uma carta a um amigo sobre seus sentimentos, hoje, a respeito do país em que você nasceu e baseado no poema Uma Canção de Mário Quintana (2009) e até uma notícia de jornal sobre suspeita de bruxaria no desaparecimento de jovem na Lagoa da Conceição (2010). Uma inovação e particularidade recente da prova da UFSC é a correlação entre a redação e as obras literárias indicadas para o vestibular. Entre eles podemos citar: considerando a lista das obras literárias indicadas para este vestibular, qual ou quais dos livros desta relação você indicaria para leitura e qual ou quais você não aconselharia? (2006) Escreva um texto considerando situações envolvendo personagens das obras listadas para o Vestibular 2008 – que podem ser vistas à luz da ética e da moral. Escrever um texto que responda à pergunta: ainda existe no Brasil de hoje pessoas como o personagem Zé do Burro, da obra de Dias Gomes, O Pagador de Promessas? (2009)

A redação na prova do vestibular da UFSC para 2011 vai valer 15 pontos dos 105 possíveis, o que significa 14,2% do total da nota. Destes 15 pontos o aluno deve fazer pelo menos 30% da nota para não ser eliminado, ou seja 4,5 pontos. Como as médias das notas dadas pelos corretores são em torno de 50% da nota total e como o desvio padrão das notas de redação é muito baixo, acaba a redação não tendo muito peso na classificação final dos candidatos, sendo menos decisivas que as provas de matemática, física e química, por exemplo. Aconselha-se a banca a distribuir melhor as notas, dando notas mais altas as redações boas e notas mais baixas as mais fracas para que a redação pese mais na classificação. Era de se esperar muito que graduados em letras tenham conhecimentos básicos de matemática e estatística (mesmo sendo estas matérias obrigatórias do ensino médio - a média dos aprovados em língua portuguesa em 2008, por exemplo, foi 3,79 na prova de matemática). Serão eliminados, com nota zero de redação, os seguintes casos: fuga total do tema, redação resultante de plágio, redação escrita em versos ou identificação do candidato no espaço destinado à redação.